terça-feira, 30 de março de 2010

Uma análise poética da rotina de um alarme

O alarme da casa ao lado disparou. Talvez nada grave tenha realmente acontecido. Quem sabe ele não está querendo avisar que há algum defeito na sua estrutura ou instalação... Ou alguma coisa pode haver de fato provocado o seu humor, que já não deve ser dos melhores.
Não sem razão, né? Afinal, quem é que gostaria de ficar o tempo todo trabalhando para a segurança dos outros, sem poder sair do lugar ou abrir a boca sem gritar. E ainda por cima, quando ele trabalha, todo mundo reclama. Se foi por causa de alguma invasão, todos ficam nervosos e com medo de quem possa ter entrado. E se não foi, todos se irritam com o barulho.
Talvez ele já tenha planejado não funcionar só pra ver qual seria a reação das pessoas. Alguém poderia entrar sem ser percebido e fazer o que bem entendesse. Mas aí pensou que se isso acontecesse, também ouviria xingamentos por não ter sido eficiente em sua função.
Muito dura essa vida de alarme.
Agora prestando mais atenção, posso distinguir o som de passarinhos cantando ao mesmo tempo em que o alarme soa, incomodando o tímpano de quem passa nas proximidades. E então concluo que o mais provável é que o alarme tenha se irritado com a melodia dos passarinhos.
Talvez tenha libertado agora toda a indignação que já sentiu na vida enquanto ouvia a doce voz desses pequeninos voadores e só podia se contentar com a sua, estridente e estressante. Quem sabe não tenha guardado já uma grande mágoa por tamanha injustiça cometida contra os alarmes... por quê só os passarinhos podem ter essa voz?
Pobre alarme. Destinado a exercer pra sempre essa mesma função sem agradar aos ouvidos mais azarados que estiverem por perto eventualmente.
Afinal de contas, quem é que já começou um livro ou um conto dizendo "era um lindo dia de sol e o alarme do vizinho disparava com seu suave e agradável som"?

Um comentário:

Gesse disse...

hehehe...divertido seu texto...=D heh