segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Lago Laranja




Eu me sentia envolta num arco-íris confuso, em que todas as cores se misturavam, mas sem formar o branco. Formavam uma cor que nem era cor. Tocava um rock pesado e eu era incapaz de distinguir vozes, instrumentos e batidas. Não era mais música; passara a ser um ruído, um barulho insuportável que me doía os ouvidos como um estranho a invadir minha casa. Eu não tinha em mente a menor ideia de onde estava e do que se passava ao meu redor... Onde estavam todos os outros? Onde ficaram todas as minhas decisões? Eu andara tão bem até então...
Segurei minha cabeça com as duas mãos e minha testa enrugada e meus olhos quase fechados ilustravam minha irritação. Eu parecia estar presa ali, inapta a livrar-me sozinha daquela aflição. Era uma sensação pior do que quando arranham a lousa ou rangem os dentes com força. Mãos invisíveis puxavam meu cabelo pra todos os lados e cutucavam meu ombro incansavelmente. Apesar do barulho, eu escutava vozes vindas de mil lugares diferentes, todas chamando meu nome, tentando me atrair pra perto delas. Mas eu tentei me manter imóvel embora alguma força esquisita me chacoalhasse constantemente.
Eu me senti a mais impotente das criaturas na face de qualquer planeta ou qualquer outro tipo de corpo jogado por aí no universo e que tenha uma face... Definitivamente aquela situação estava fora do meu controle.

Quando estava prestes a cruzar a linha em que começa o desespero, de repente tudo se acalmou.

O barulho foi embora, substituído por canto de passarinhos. Um cheiro de terra úmida preencheu o ar. A inquietude passou. Estranhando essa repentina e radical mudança, abri os olhos vagarosamente, sem fazer movimentos bruscos, para tentar entender o ocorrido. Eu me encontrava numa canoa, flutuando num lago laranja cuja superfície era plena calmaria. Parecia cena de filme; beirando o estático. Era quase o irreal, mas aquela paz me contagiou de forma tão intensa que não resisti e acreditei nela... me entreguei a ela. Fui inundada mesmo sem que a água se mexesse, e entendi que por mais que às vezes a maré volte a baixar, posso me sentir mergulhando nela toda vez que desejar ou precisar.


Provei.