sábado, 26 de novembro de 2011

Blusa amarela com lantejoulas

Aquela menina da blusa amarela com lantejoulas, vês? Pois sim, ela.

Acontece que falo de uma menina cuja história é um tanto incomum. Nada de estranho ou estarrecedor; trata-se duma história...digamos que "irrepetível". Sim, é este o termo.

Nascida, nova já aprendia o que quer que lhe ensinassem. Com destreza, lhe afirmo. Dançou, cantou, tocou piano e, decerto, corações, com sua graça e seu brilho.
E cresceu. Ganhou os devidos centímetros, uns poucos - bem poucos - quilos, três irmãos, muitos amigos e um amor. Pôs-se aos estudos, alçando corajosos voos e, com louvor, alcançou grandes alturas, embora jamais tenha se bastado ao conhecimento já tido. Como lhe disse, não se trata duma pessoa qualquer, meu amigo. E, bom, se pensas que isso tudo que lhe venho contando já conclui a história, te enganas. Pra além daqui, ainda vamos avançar num ponto: essa de quem lhe falo era diferente; tinha algo diferente; fazia tudo diferentemente e de tudo, diferente. Embora tenha se encarreirado pelos caminhos da Odontologia, não era esse o principal motivo que lhe levava a fazer sorrirem os outros. Talvez porque, acredite, não era essa ciência o que mais estudava, o que mais lhe preenchia a cabeça. Algo além lhe ocupava a mente e habitava o coração. Constituía a razão de seus cantos, passos, palavras e jeitos; o motivo de seu sorriso e de sua liberdade.

Voltando à história em si, preciso contar-lhe que ainda recebeu dentro de si, e em trinta e poucas semanas, dentro de sua casa, duas meninas. Chegaram no intervalo de quatro-quase-cinco anos, por forças de algo que não o mero destino. E a partir de então, confesso que tenho maior propriedade pra lhe falar; foi quando tive a graça de conhecê-la. Sabes que foi aos poucos que isso se deu, certo? Levei uns tantos a entender quem era ela, embora já soubesse chamá-la e dela tomasse grande quantia de tempo. Demandei sua atenção até de forma abusiva, considero eu, mas foi assim que pude descobrí-la aqui e ali, e entender que não se importava de maneira alguma em atender aos meus pedidos ainda que lhe custassem o sono. Notei-lhe o cuidado, empenho, dedicação incondicional. Sua paciência em ensinar, em disciplinar, bem como no envolver-se verdadeiro, mais tarde se tornaram evidentes para mim. Amigo, te conto ainda que as histórias cheias de Marias que ela contava até hoje permeiam as minhas memórias. Como ri! Como esperei aflita em ansiedade pelos capítulos vindouros! Recebi dela orientação em muito, naquilo que se podia aprender em livros, bem como naquilo que talvez nem o tempo conseguiria me ensinar tão bem. Trouxe-me conhecimento das letras, incentivou-me a buscar melodias nas mãos e nos pés. Ensinou-me da vida, da Vida... e dela se tornou, como posso dizer?...parte especial. Sinceramente, não exatamente "parte", porque "parte" soa definido, limitado. E esteja certo, amigo, que não encontrei nem pretendo encontrar os contornos da tamanha importância que tem ela em minha história.

Constante no passado; presente no presente; eterna para sempre.

Acontece que a blusa amarela com lantejoulas passou pra mim e muito tenho lutado - e assim prosseguirei - pra merecer vestí-la.
E acontece que essa de quem tanto - apesar de, ainda assim, pouco - falei é minha amiga mais especial, longe ou perto, atemporal.
Costumo chamá-la minha mãe. Costumo dizer que a amo. E muito.