domingo, 18 de março de 2012

Baile



Sinto falta. Muita falta.
Sinto saudades. Elas são líquidas: transbordam, vazam, ocupam todo o espaço que veem pela frente.
Sentir falta é diferente de sentir saudades, que isso fique claro. Em alguns casos, podem expressar a mesma ideia, mas não é sempre. Digo isso porque saudade nós sentimos de algo lá de trás; falta, além disso, sentimos daquilo que não temos e talvez nunca tivemos, mas que é necessário ou desejado.
Ambas me enchem e expulsam lágrimas indomáveis dos meus olhos,... Às vezes amargas, angustiadas; às vezes doces, comovidas e esperançosas.

Saudades...
Sinto de pessoas... daquelas que não vejo mais e nem tenho contato, daquelas que estão longe mas ainda alimentam a amizade de alguma forma, daquelas que ainda vejo bastante, mas deixei de conhecer (estas últimas em especial, me confundem e me maltratam) e também daquelas que estão perto, mas cuja presença, ainda que constante, nunca satisfaz a minha vontade de fazer-lhes companhia. Sinto saudade de certos abraços, sinto saudade de cômodos aconchegantes e até mesmo de outros com cara de hospital. Também de minhas bonecas - as da infância e as da adolescência - até mesmo daquelas que sempre eram as vilãs das historinhas que eu criava. Sinto saudade da minha sacolinha de pano cheia de brinquedinhos em miniatura. Sinto saudade das casquinhas de machucado nos joelhos, tão fiéis e inseparáveis companheiras minhas. Sinto saudade de sóis e de luas, ambos de dia e de noite, sinto saudade de um eclipse e de um barco. Sinto saudade de perfumes cujos frascos vieram a se revelar finitos.
E sinto falta. De pessoas que devem vir, de abraços que quero que venham. Sinto falta de músicas que ainda não escrevi, de canções que estão por ser entoadas. Sinto falta de encontros, de desencontros talvez. Sinto falta do vento no rosto e do calor nas bochechas. Do estômago revirado, da cabeça fervilhando. Sinto falta do passinho-pra-cá-passinho-pra-lá, do sonho de que a gente acorda sem se conformar que tenha sido fantasia. Sinto falta dos dias de mergulhar na lama e dos de vestir terninho e falar chique. Sinto falta de um romance pra ler ou assistir, de torcer e esperar pelo final feliz. Sinto falta de coisas velhas que nunca vi nem das quais jamais ouvi falar. Sinto falta de conhecer o que nem imagino que há por aí. Sinto falta de mudanças repentinas e radicais de atitude e até mesmo de tempo - quando aquele calor de estufa se torna tempestade no meio da caminhada de volta pra casa depois de umas comprinhas do mês no mercado. Sinto falta de riscos. Sinto falta de rabiscos. Sinto falta de tempo pra rascunhos, mas também de viver sem precisar deles.

Sinto saudade do que já senti, vi, tive, vivi; lembranças. Sinto falta de coisas que quero sentir, ver, ter e viver; esperanças.
E, olha, no fim das contas, eles têm razão ao dizer que a saudade é prova de que houve algo bom, muito bom. Senão, de quê derivaria?
Então se há algo de que não quero sentir falta... ah, não quero sentir falta de sentir saudades.

Que ela sempre me conceda a próxima dança, me lembrando em cada compasso das coisas mais belas que a mim se apresentaram um dia.
Mas que, ao fim do baile, eu sinta falta. De modo a buscar as coisas mais belas que a mim surpreenderão num outro dia.





(10/09/2010 - 18/03/2012)

2 comentários:

Gesse disse...

Baile?!
Onde?
Vamos dançar?
Sinto falta de dançar, de quando em quando...

por que da data, no finalzinho?
Só vi hoje, pois ontem no celular nem reparei.

Abraço!

Winne disse...

Sinto saudades e sua falta